Outro dia, no salão, meu cabelereiro me confidenciou uma coisa entre uma tesourada e outra: ficou emocionado ao cortar o cabelo da minha filha mais nova. Disse que é raro ver pais deixando os filhos escolherem o próprio corte. Normalmente quem manda no comprimento, no modelo e na franja (ou na ausência dela) são os adultos. Sempre num combo conservadorismo + controle + "só as pontinhas, moço".
Saí do salão pensativa, quase flutuando naquele cheiro de shampoo caro. Fiquei lembrando de como, antigamente, os pais decidiam tudo: a profissão, os horários, o que podia ou não podia, e se fosse menina, então… o pacote vinha com destino pronto: casar e servir ao lar.
A conversa me bateu com força porque, veja só, tem pai por aí ainda decidindo o corte de cabelo do filho. E não é porque a criança tem três anos, não — é porque o controle parece mais confortável que a incerteza. A gente tem medo de ver os filhos errando, sofrendo, fazendo franja reta sozinhos aos 7 anos. Mas será que é isso que a gente quer mesmo pra eles?
Tem um negócio que médicos paliativos dizem — e sempre me arrepia: o maior arrependimento no fim da vida é ter vivido o que os outros esperavam, e não o que o coração queria. Imagina isso na escala infantil: não poder nem escolher entre moicano e chanel.
Minha filha fez seu primeiro corte ousado aos seis anos (foi como essa imagem que peguei no Google e ilustra essa edição). Eu tremi na base. Tô no time “cabelo cresce”, sim, mas também sei que cresce no tempo dele — o que, às vezes, não acompanha a ansiedade da criança. Ela cortou. Amou. Saiu do salão desfilando como se estivesse na passarela de Paris Fashion Week edição mirim. E o melhor: não estava nem aí pro que iam dizer. Ela se achava maravilhosa. E estava certa.
Com minha caçula, aprendi sobre amor-próprio e coragem. E com os dois filhos, e a minha própria experiência como filha, venho aprendendo uma lição difícil de engolir, mas necessária: filhos não são nossos. São da vida. Eles passam por nós, vivem com a gente por um tempo, mas — se tudo der certo — vão embora explorar o mundo, cometer uns erros, fazer umas escolhas esquisitas e voltar de vez em quando pra comer o pudim da mãe.
Claro que não digo isso de peito aberto e sorriso calmo. Tenho medo. Mas prefiro o medo de vê-los indo do que o medo de vê-los parados (e morando comigo aos 30 anos, pelo amor de Deus), presos a uma vida que não escolheram.
A gente vive dizendo que os filhos precisam honrar os pais. E se a gente também começasse a honrar os filhos? Respeitar seus desejos, seus estilos, suas esquisitices. Dar espaço pra que eles escolham seus caminhos, e não só os cortes de cabelo. Apoiar, amar, vibrar (e tomar um chá calmante quando preciso). Afinal, educar também é isso: dar uma chance aos filhos — e torcer pra que eles deem uma chance pra gente também, quando a gente errar a mão.
Pílulas de inspiração
Em 2024 li um livro que abriu algumas janelas na minha cabeça sobre a criação de filhos. Já li muitos livros sobre maternidade e fazia anos que não pegava algo do tema. Mas esse estava há bastante tempo na minha lista até que entrou em uma promoção na Amazon e adquiri. Vou deixar o link aqui para quem se interessar:
Como criar filhos para o mundo, Esther Wojcicki.
É um livro sobre maternidade bem diferente do que vemos por aí, pois tem dicas bem práticas e simples para colocarmos em prática. Mais que isso, traz bastante experiências, histórias que nos fazem refletir sobre a nossa maneira de maternar e criar os filhos. Gostei muito e recomendo a leitura.
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Curiosidade aleatória, Fui convidada para participar de uma antologia materna. O meu tema é mãe de adolescente. Acabei de entrar nesse universo e nem sei o que falar a respeito, mas ando pensando no assunto. Quero muito respeitar e adorar a adolescência. Mas eita período complicado…
Entre palavras e ideias
📩 Quem mais detesta andar de Uber, coloca o dedo AQUI.
📩 Oi, texto. Essa sou eu vasculhando textos antigos das amigas para me inspirar.
📩 Sonho de todo escritor. O meu agora é só arrumar um tempinho para escrever.
📩 O que você precisa para escrever? Estou precisando de tempo e inspiração.
Te vejo semana que vem?
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Lindo, lindo, lindo. Já guardei suas palavras na minha gavetinha do futuro. Aprendo tanto sobre maternidade com você e com a Andrea! Obrigada por serem inspiração para mim.
E amei encontrar uma edição antiga minha por aqui ☺️
Gabi, essa parte me pegou: "A gente vive dizendo que os filhos precisam honrar os pais. E se a gente também começasse a honrar os filhos? Respeitar seus desejos, seus estilos, suas esquisitices".
Tento fazer isso com a minha maternidade. A gente tem a mania de querer dar palpite, impor nossas vontades, nossas opiniões, mas eles têm o direito também de ser quem quiserem, fazer o que quiserem e cabe a nós a confiança na educação do certo e errado, do seguro e do perigoso e por aí vai.
Sei que é difícil, a gente quer o melhor pra eles, mas temos que nos lembrar de que às vezes o melhor deles não é o mesmo que o nosso melhor.
Amei, amiga! Vontade de ficar batendo papo sobre isso num barzinho. rs