Desconhecer-me para me conhecer

Fevereiro 2024. Fiz minha primeira viagem sozinha. Quer dizer, eu já tinha viajado sozinha a trabalho, há muitos anos. Em 2022 viajei só com uma amiga – o que também já tinha feito mais jovem, antes da vida de casada e de me tornar mãe. Dessa vez era a primeira vez viajando sozinha de verdade, sem compromissos profissionais, sem ter em quem me apoiar, sem ter algo familiar, sem ter de quem cuidar além de mim mesma. Destino: Salvador.

Passei 2023 pensando que eu precisava viajar! Não para fugir de tudo o que estava acontecendo, mas para me resgatar e me perder. Eu queria me desconhecer. Fazer tudo o que não faria porque me controlo. Quem é a Gabi sozinha, longe da sua vida cotidiana? O que ela faria? Como se comportaria? Eu queria perder o controle.  

Meu sonho sempre foi ir para Machu Picchu. Uma pessoa me falou: vá para Salvador! E no segundo dia nessa cidade mágica entendi o motivo. Esse é um lugar de cura com alegria, magia e uma energia indescritível! Aí lembrei de uma fala da Clara, minha terapeuta, quando disse pra ela que tinha feito uma loucura e comprado uma viagem (loucura pra mim que não faço nada sem planejamento):

Gabi, Salvador tem tudo a ver com você, sua cara, ótima escolha.

Não sei como nunca tinha cogitado esse destino na vida. Só sei que as coisas acontecem no momento certo. Foi deliciosamente lindo estar lá sozinha, e me redescobrir como mulher cheia de vontades, desejos e energia.

Recentemente, a Sandy (a cantora) também fez sua primeira viagem solo. Ela compartilhou sobre sua experiência em um post no seu Instagram. Eu me identifiquei com esse trecho:

Tantas sensações… medo, insegurança, uma vontade doida de me jogar nessa loucura do outro lado do mundo… Ver o que eu ia encontrar fora e, principalmente, dentro de mim. E, olha, encontrei. Muitas coisas.... posso dizer que entre programações feitas por mim e pra mim, muitas caminhadas na rua, frio, chuva, vento forte, música MUITO BOA, dor nos pés, nas mãos congeladas, passeios frustrados, comida MUITO gostosa e diferente, suspiros, lágrimas, risada alta (sem ter com quem compartilhar, porém alta), tive muitas surpresas incríveis. QUE PRESENTE que eu me dei… aff, q ideia maravilhosa essa que eu tive.

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Que ideia maravilhosa, naquele dia de novembro/23 de não pensar muito e só comprar a viagem. Foi o melhor presente que eu poderia ter me dado.

Assim como a Sandy, não descreverei tudo o que vivi. Mas foram dias de me desbravar. Foi incrivelmente delicioso, ousado, inesperado. Já tenho sonhado com a minha próxima viagem solo. E ando desfrutando e valorizando cada momento que estou sozinha. Tenho pensado que estar sozinha é se descobrir como lar.

Pílulas de Inspirações

Durante minha viagem solo, recebi muitas mensagens de mulheres dizendo que não tinham coragem de viajar só. Entendo. Eu também não tinha. E digo mais, quando parei de trabalhar fora, comecei a programar minha viagem solo para Machu Pichu e não segui em frente por medo. Agora até busquei um destino brasileiro para não correr o risco de me desencorajar.

Vou deixar aqui um perfil que sigo e que me inspira nesse sentido, para quem sabe inspirar outras mulheres, é o To indo Viajar sozinha, da Flavia Goulart. Foi uma indicação da minha amiga Nina, quando nós viajamos juntas em 2022. Desde então, acompanho o trabalho da Flávia. Recentemente, ela até comentou sobre a viagem da Sandy e falou algo que me chamou a atenção:

A sociedade não estimula a nossa versão solo.

É verdade. Perceba, se você diz que foi a um show sozinha, tem sempre alguém que fala: ah podia ter me chamado para não ir sozinha! Mas quem disse que você queria a companhia de outro alguém para o show?

Durante minha viagem solo mesmo, as pessoas se surpreendiam “nossa, mas você veio sozinha?”. Às vezes, tudo o que uma mãe quer é estar sozinha.

E digo mais, estão sempre atrelando a nossa felicidade a alguém, como se sozinho não fosse possível ser feliz, curtir, se divertir. Então, uma viagem solo, aos olhos da sociedade, é chata ou é “coitada, não tem ninguém para viajar junto”. Mas eu que sou mãe e tenho uma rotina bem agitada, posso dizer que foi maravilhoso fazer as coisas no meu tempo, não ter que me preocupar em alimentar outra pessoa, em ter que dormir cedo, caminhar pelas ruas com meus pensamentos sem serem interrompidos, tomar café da manhã sem pressa, sorrir sem ter que explicar o motivo do sorriso, mergulhar para dentro de mim. E descobrir, que eu sou uma ótima companhia pra mim também.

Com afeto e coragem,

Gabi Miranda