Em algum canto do coração, temos sempre 20 anos...
Quando é que a gente perde a capacidade de ver e viver as coisas de um jeito inédito?
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
A frase circula pela internet e é atribuída a vários autores diferentes. Reli no ano passado, num texto da Ruth Manus, em seu livro Um dia ainda vamos rir de tudo isso, no qual ela conta que uma amiga, aos 18 anos, pintou essa frase na parede do quarto ao iniciar a quimioterapia. Ruth diz que essa amiga "viveu todos os seus dias intensamente, com um sorriso no rosto, pedindo para ficar mais um pouco."
Repare: o desejo é claro para as crianças e para as pessoas que se veem diante de uma doença iminente, assim como o entusiasmo pelas experiências. Tudo é novo diante dos olhos de uma criança. Tudo é uma possibilidade diante de alguém com câncer. Ambos vivem no agora.
Viramos adultos, e o desejo vai diminuindo com o tempo, dando lugar às urgências de quem já cresceu: o relógio apressado, as tarefas acumuladas, os compromissos, os boletos, a sensação de que sempre há algo mais importante do que simplesmente estar ali. É um círculo vicioso: quanto mais enumeramos as coisas que temos para dar conta, menos atenção damos ao que nos faz bem – e, assim, a vida vai ficando enfadada.
Ficamos sobrecarregados, viciados em dar conta das obrigações, e esquecemos de praticar o que mantém nossa paixão pela vida – às vezes, algo tão simples. Deixamos de fazer coisas que nos arrancariam um sorrisinho no canto da boca por dias, porque falta tempo, porque acordamos cedo amanhã, porque está tarde, porque estamos com dor de cabeça, porque estamos de dieta... Excesso de adultice e uma certa fé de que pode ficar para amanhã. Mas será?
Minha filha caçula, dia desses, me respondeu a um “será?” meu com algo que me desmontou: "A vida é uma só, mãe." Olhei para ela e pensei: uau! Nove anos se passaram desde o seu nascimento, e agora ela está aqui, me lembrando de não deixar passar uma chance.
E essa conversa não é sobre viver loucamente, num eterno uhuuu. É sobre suspiros de liberdade. Sobre uma vida mais leve e genuinamente feliz por ter menos regras. É sobre andar de bicicleta, de preferência numa quarta-feira. Sobre ver uma amarelinha desenhada na calçada e pular. Andar descalço na grama. Tomar banho de chuva. Fazer castelo de areia. Deitar no chão para olhar as nuvens e imaginar formatos. Fazer uma viagem longa de carro. Ir de pijama ao cinema.
Sobre enviar uma mensagem de voz sem fôlego de tanto rir, ou ainda pra dizer “sinto muito” ou "eu quero, pode ser agora". Sobre finalmente comprar aquela peça de roupa que você namora há tempos. Sobre andar de patinete em plena madrugada na Av. Paulista.
A vida é curta, e o tempo não volta. Não dá para esperar ficar doente para então fazer o que tem que ser feito. Temos que nos policiar para não perder o que a vida tem de novo. Todos os dias esbarramos com a chance de nos surpreender fazendo algo inusitado. O problema é que o cansaço nos deixa com o olhar contaminado, o espírito entediado, e seguimos repetindo os dias como se fossem sempre os mesmos.
Mas a vida está cheia de sensações novas para nos apresentar.
A gente só tem uma vida, e precisamos fazer tudo o que vale a pena por ela.
Que em 2025 a gente acorde mais como quem nasce.
Ou que, pelo menos, desperte com o nosso eu de 20 anos sempre atento e com vontade.
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Entre palavras e ideias
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