Eu sei, o nome é péssimo, mas por alguma razão o filme de 2014, emplaca agora a lista dos Top10 da Netflix. Normalmente, não assistiria – confesso, envergonhadamente, sou do tipo que julga o livro pela capa, o filme pelo título. Resolvi dar uma chance. Durante uma hora e 50 minutos fui da raiva ao riso, do riso a olhos marejados. E vou compartilhar com você os motivos dele estar na lista de filmes mais assistidos do streaming.
Com vidas totalmente diferentes, Jan, Hillary, Esperanza, May e Lytia tinham um fio condutor em comum que as uniram. Todas eram mães solteiras/divorciadas, com trabalho, família, casa, escola, todas as responsabilidades possíveis. Mas não importa quão discrepantes eram suas vidas, todas eram mulheres batalhando pelas mesmas coisas: salvar o mundo, criar seus filhos, tentar viver a vida e realizar seus desejos.
O filme me pegou logo no início quando mostra Jan ameaçada em perder - para um rapaz bem mais jovem, solteiro e sem filhos - uma possível vaga de sociedade na empresa para qual trabalha há 17 anos. Em uma reunião cheia de engravatados, ela é a única mulher e é sondada se poderia trabalhar mais horas, pois o cargo exige que o profissional dedique muito do seu tempo. Enquanto isso, Hillary está em outro canto da cidade, numa sala com sua advogada, o do ex-marido e um juiz, sendo questionada o motivo de ainda não ter encontrado um emprego. Tudo porque o ex está batalhando para diminuir o valor da pensão. Essas cenas acontecem, sei lá, nos primeiros 10 minutos, tempo suficiente para meu sangue ferver.
Eu já estava há meses separada, esgotada, sentindo como se estivesse enxugando gelo, quando me dei conta de algo. Não importa o que façamos, mulheres divorciadas têm menos tempo para ganhar dinheiro. O motivo é óbvio: temos menos tempo que os homens. Enquanto eles estão vivendo suas vidas – morando sozinhos ou de volta com os pais ou com novas parceiras, nós estamos preocupadas em como dar conta de tudo. Preparar refeições, fazer compras, limpar a casa, ajudar na lição de casa, lavar, pendurar e tirar a roupa do varal, tirar o lixo, passar, acordar, cuidar, dedicar tempo de qualidade, alimentar, orientar, colocar para tomar banho, dormir, marcar consultas, manter a rotina, não ficar doente, sobreviver e, se possível, ter tempo para um prazer que faça seu corpo arder até sentir que está viva em você uma mulher, além de mãe.
Penso na mudança comportamental da sociedade. Mesmo que novos caminhos estejam sendo traçados por meio da voz ativa de muitas mulheres, há muito o que mudar. A origem sexista dos deveres domésticos/conjugais contribui para a desigualdade de gênero. Pergunto-me: em que medida as necessidades femininas estão sendo traduzidas em transformação na sociedade? Ainda há um desequilíbrio excessivo nesse cenário. Quando se fala em divórcio, então... muitas mulheres não se separam porque são dependentes financeiramente dos seus maridos. E as que não são, quando se separam, ficam mais pobres porque sim, repito, elas têm menos tempo para fazer dinheiro e até para viver - e há quem diga: que sorte a sua ter dois finais de semanas livres no mês! Já para os homens, a paternidade na solteirice parece não alterar rotina e responsabilidades, nem sua percepção de tempo livre. Alguns quando solicitados para exercer a parentalidade fora do combinado, ainda fazem parecer que estão prestando um favor.
O filme escancara essa realidade dura, nua e crua. O que todas as mulheres-mães-solteiras/divorciadas querem é uma coisa só: ajuda. Genuína. Sem ter que pedir, consumidas pela culpa.
Pílulas de inspiração (e esperança)
Algumas cenas me conectaram demais com as personagens, para não me alongar (será que consigo?), vou citar apenas três.
Três cenas que dialogaram com meu coração
Cena 1
Lytia chega na casa de Hillary para um compromisso. Hillary abre a porta e parece que um tsunami passou por ela. Mãe de três, está nitidamente atordoada, perdida. Demitiu a pessoa que a ajudava com as crianças. Lytia entra na casa, começa a acalmar o bebê que está aos prantos, faz o menino maior ficar quieto. Então, Hillary pergunta:
- Como consegue? Como consegue ser mãe solteira? Eu nem... É muito trabalho para fazer sozinha.
Lytia responde sem titubear:
- Veja, esse é o problema. Está pensando a respeito. Não pode fazer isso. Tem só de fazer. Se tentar pensar em tudo, ficará sobrecarregada. Cuide de um nariz escorrendo e uma fralda suja por vez.
M E U D E U S! Quantas vezes me vi questionando: como a minha mãe conseguiu? Porque eu não estava dando conta (ainda não dou), já cogitava a voltar a trás quando parei de pensar em tudo o que tinha pra fazer e passei a me dedicar a viver um dia de cada vez. É a melhor coisa a se fazer.
Cena 2
Depois do filho ter jogado na cara dela que preferia morar com o pai do que com ela, May vai buscar o menino na escola. O pai tinha dito que ia busca-lo. Ela sabia que ele não iria e estava lá, de prontidão para o filho. Aguardou o tempo necessário de espera da criança até que foram embora. É uma das cenas mais bonitas. Que mãe solteira nunca ouviu essa frase sair inesperadamente da boca de seu filho, mesmo que esperada por ela, e ainda assim, no dia seguinte estar lá pronta para envolver sua cria num abraço, como quem diz: não importa o que aconteça, estarei sempre aqui pra você? Eu já. E mesmo sabendo que é da boca pra fora, dói imensuravelmente. Essa cena, como tantas outras, me fez lembrar de uma frase que uma amiga, a Dani, há muito tempo disse: filho só tem mãe. Uma frase com quatro palavrinhas que diz muito sobre a maternidade.
O filme também tem essa coisa bonita da mãe se manter firme em não manchar a imagem do pai para os filhos. Elas não falam mal dos pais para as crianças em nenhum momento. Pelo contrário, a May, por exemplo, faz questão de ressaltar para o filho que o pai o ama e que faz o melhor que pode - algo que ficou muito nítido pra mim nesse período de separação. Minha caçula vive me perguntando “por que você compra presente para o papai em datas comemorativas? Ele não compra pra você.” Respondo sempre a mesma coisa, a gente entrega pro outro o melhor que pode.
Cena 3
Hillary, de novo. Ela tem desejos femininos que não se vê realizando-os mais. O principal desejo é pelo vizinho que acabou de se mudar para a casa ao lado. Em algum momento ela o chama, pede um favor, eles têm uma conversa divertidíssima para o telespectador. Era um flerte e ela não se dá conta (quem nunca?). Mas não é sobre essa cena meu comentário. Mais adiante, eles estão conversando e ela confessa que não sabe por onde começar, que não é boa nesse lance de flerte e tal e ele fala que não precisa ser boa em recomeçar, só tem de ser boa em se soltar. E é isso, a gente tem uns medos bobos, quando tudo o que precisamos é ser boa em se soltar.
Apesar do nome (sim, me incomodou), é um filme bonito sobre mulheres solteiras/divorciadas tentando dar conta de tudo, enquanto buscam certo equilíbrio, nos dizendo que nem tudo será perfeito, mas que precisamos achar as brechas para viver além da maternidade. E que bonito é essa irmandade, essa coisa das mulheres se ajudarem, mesmo tão diferentes, mas com tantas coisas em comum. Sem dar spoiler, mas já fazendo, gosto também da perspectiva que o filme trás de que existem homens bacanas, disponíveis e que não enxergam empecilhos para se relacionarem com uma mulher divorciada e com filhos. Afinal, não é segredo, em algum canto do coração, temos vivo em nós o desejo de viver outras histórias de amor.
Vale a pena assistir o filme independente se você é mãe ou divorciada. Basta ser mulher.
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Assisto esse filme essa semana e fui pega igual você: somos nós por nós para ajudar umas às outras a dar conta de tudo.