Outro dia, uma colega estava chateada por causa de um moço com quem ela sai eventualmente. A definição pra isso: relação casual. O nome já diz tudo — aquele compromisso SEM compromisso, onde o único planejamento a longo prazo é decidir o que pedir no delivery depois do sexo. Não tem obrigação de marcar save the date, de chamar para uma festinha em família, nada disso.
O problema? Ela estava chateada porque no dia seguinte nunca rola nada. Nem uma mensagem no WhatsApp dizendo “foi bom, hein? Até a próxima”. E, quando ela tenta mandar uma mensagem, o moço nem responde, simplesmente some. Desaparece por semanas, até que reaparece para uma nova transa. É tipo o Batman, mas sem o charme do Bruce Wayne.
Já uma outra amiga — e aqui uma pausa para lembrar o dia em que Clara, minha terapeuta, me deu o melhor conselho: “você precisa de amigas solteiras” (eu faço essa lição de casa com dedicação) — estava a fim de um cara que só queria algo casual. Enquanto isso, um outro rapaz a queria de qualquer jeito, mas ela não o queria. Motivo? No sexo, tinha coisas que ela curtia e que o cara não fazia (sim, estou falando de sexo oral. Compreensível, tem coisas que são inegociáveis).
Agora, uma terceira amiga (porque é fato: a vida das amigas solteiras rende mais entretenimento) estava arrasadíssima. Ela tinha ficado com um cara, adorou o encontro, mas o moço sumiu no dia seguinte. Nem chegaram a transar. A dúvida dela: será que meu beijo é ruim?
Pra não ficar injusto com as amigas solteiras, trago uma experiência pessoal. Chamei um paquera para um date, mas ele já tinha outros planos. Fiquei em casa, de boas, até me desliguei do celular e horas depois quando peguei o aparelho tinha uma mensagem de outro boy me chamando pra sair. Pensei: “Ah, por que não? Não tô fazendo naaaaada”. No minuto seguinte, percebi que estava indo contra a mulher que busco ser. Eu já tinha listado algumas red flags desse boy para me lembrar de não sair com ele de novo.
(Red Flags: aqueles sinais vermelhos que aparecem no começo, tipo spoiler de filme ruim, mas que a gente insiste em ignorar, achando que vai ser um plot twist maravilhoso).
Foi então que lembrei de uma frase que tinha acabado de ler num livro: sozinho faz sentido também. Respirei fundo, muito madura, mulher bem resolvida e agradeci o convite dizendo que estava de boa em casa, e assim continuaria. E isso era sobre mim. Eu não queria. E não tem nada melhor do que encontrar prazer na própria companhia.
Estou ilustrando com todas essas histórias, porque dia desses fiquei me perguntando: por que nós, mulheres, ainda damos tanto poder aos homens? Se o cara não responde e só aparece quando quer transar, é porque ele não quis antes. Se ele não fez sexo oral, é porque ele não quis. Se sumiu depois do encontro, é porque ele não quis. E, se já tinha outro programa, o que pode ser verdade — ou ele só não quis mesmo. E sabe o que isso significa? Não tem NADA a ver com você. Com a gente.
Talvez o cara seja casado, tenha acabado de sair de um relacionamento ou esteja lidando com seus próprios problemas, ou simplesmente... não queira. Está tudo bem. Não está sob o nosso controle o querer do outro e o que cabe ao outro. Mas o que aceitamos, o que permitimos é sobre nós. Às vezes precisamos colocar os nossos limites até para nós mesmas. Porque se a gente não se coloca, somos colocadas (no lugar que o outro quiser).
Li dia desses que nós, mulheres, nos responsabilizamos por tudo. Se o cara não ligou, se tem ejaculação precoce, se não gozou, se a gente não gozou, se o beijo foi bom ou não, se, se, se... Meu Deus, que peso!
O que tenho aprendido nessa fase de mulher madura, livre e que tem um cabelo que já dá muito trabalho é: segure apenas as responsabilidades que são suas. Está com vontade de mandar mensagem? Mande. Com vontade de sair com ele? Seja clara. Com vontade de transar? Transe. Incomodada de ser procurada só quando o cara quer? Desconfie dos seus incômodos. Banque os seus quereres, as suas vontades. Aceite o que é sobre você. E nada de joguinho porque a gente já passou dos 40 - eu já, você eu não sei, mas de qualquer maneira, a vida é muito curta e o mundo é grande, não temos tempo para desperdiçar.
O que não vale é carregar a culpa pelo que está fora do nosso controle. Liberte-se. E aproveite a vida, que ela fica bem mais leve assim.
Entre palavras e ideias
📩 Escrever com raiva pra mim é só no diário e minha letra ainda transparece o sentimento.
📩 Pega essa: talheres de metal rouba a energia dos alimentos. Adorei! E fiquei pensando: por que será que fugimos de conversas difíceis? Tem um livro muito bom sobre isso, inclusive: Conversas Corajosas, Elisama Santos.
📩 Eu não tenho tantas memórias da infância, alimenta minha alma ler crônicas sobre quem tem.
Até semana que vem!
Gabi Miranda
ebaaa!!! to muito feliz que a fase de textos sobre dates VEIO AÍ!!! UHUUU
Texto maduro, corajoso e cheio de poder! Adorei!