Comecei a ler o livro Uma Segunda Chance. Uma leitora muito querida insistia há tempos para eu dar uma chance (olha o trocadilho) — dizia algo como “você precisa ler, tem a sua cara”. É da Collen Hoover, a mesma autora de É Assim Que Acaba, É Assim Que Começa, Verity e outros. Não sou muito fã desse tipo de literatura mais comercial, digamos assim. Ano passado li Verity e até curti o suspense, mas não me conquistooooou assiiiiiim, não é o tipo de leitura que me enriquece. Assisti também ao filme de É Assim Que Acaba. Enfim, essa leitora insistiu tanto que meses atrás encontrei o tal livro em promoção pro Kindle, comprei e deixei lá.
Tem livro que atrai a gente no momento oportuno. Só sei que, há uma semana, o Kindle começou a olhar pra mim como quem diz: “Uma Segunda Chance tá aqui, te esperando.” Peguei. Abri. Comecei na quarta-feira passada. E não é que o livro me pegou?
Logo nos primeiros capítulos, me vi pensando numa pergunta que tem me rondado há algumas semanas: o que faz as pessoas se sentirem atraídas umas às outras?
Assim como um dos personagens, eu também não entendo como funciona a atração. Duas pessoas que nunca se viram trocam um olhar, algumas palavras... e pronto: do nada, nascem micros instantes intensos, como pequenas fagulhas acendendo uma fogueira. Tem algo mágico (ou talvez biológico demais) na forma como o desejo e a atração acontecem.
É tesão, sim. Dá para explicar?
É como se o corpo soubesse antes da mente. Como se existisse uma coreografia secreta entre gestos e silêncios, entre cheiros e risos, entre o que não foi dito e o que ainda pode acontecer.
Às vezes, o que poderia ser só uma cena breve vira um capítulo inteiro. Ou um livro. Ou uma história que a gente nem sabe onde vai dar, mas já está escrevendo com o corpo.
Encontros assim não obedecem lógica, planejamento, nem algoritmos. Eles simplesmente... são. Um luxo.
Parece até história literária ou cinematográfica - até acontecer com você. Num lugar improvável, num momento qualquer, um pensamento cruzado e pronto, várias conexões e de repente duas pessoas se reconhecem em algum lugar profundo, quase ancestral. Como explicar? E será que precisa?
Uma paixão simples, por favor!
Esse ano também li Paixão Simples, da Annie Ernaux. Uma escritora francesa que gosto muito e que, nesse livro fininho de 60 páginas, fala sobre sua experiência de viver uma paixão avassaladora por um um homem casado. A escrita dela é crua, sensível, muito honesta. Ernaux fala de sentimentos universais. Fiquei comovida — e também angustiada. Ela passa da glória à humilhação como quem atravessa um corredor escuro: tropeçando, tentando se manter de pé. Tudo pela paixão.
Eu lia e pensava: então, é isso? é isso que é estar apaixonada? Nem cabe aqui o meme: Deus me livre quem me dera. Basta um pouco de autoconhecimento pra gente saber o que quer.
Calcular os dias, as horas, esperar mensagens que não chegam, reconstruir as conversas, alucinar entre a memória e a imaginação… meu Deus, me parece um pouco torturante. Já me basta a tortura que é cuidar do meu cabelo cacheado.
Mas tem algo que gosto nessa experiência dela. Annie tinha consciência de que o cara era casado, que um dia provavelmente iria embora, não vivia só de ilusão e mesmo assim se jogou e quis viver essa paixão que lhe rendeu momentos felizes e uma grande história. Um trecho do livro veio morar em mim. Escrevi num caderninho:
Quando eu era criança, o maior luxo para mim eram os casacos de pele, os vestidos longos e as mansões à beira-mar. Mais tarde, passei a achar que o luxo era ter uma vida intelectual. Agora me parece que é também a chance de viver uma paixão, por um homem ou por uma mulher.
Bingo! Em tempos de aplicativos de relacionamento, joguinhos, flertes mornos e um eterno “molha mas não chove”, acho que luxo mesmo é viver uma paixão. Correspondida. Sem aperto no peito ou no estômago, sem joguinho, sem ilusão, sem o caos das certezas que a gente inventa.
Não precisa ser avassaladora. Pode ser simples. Simples como um olhar que se cruza, um riso que encaixa, uma música que se escuta junto, uma paz que se sente. E pronto: uma segunda chance pro amor, pra alegria, pra leveza.
Mesmo que dure pouco - porque é um luxo tão raro nos dias de hoje, que vale a pena viver o tempo que for. Mesmo que não vire livro. Mas que dê vontade de sublinhar.
Pílulas de Inspiração
Semana passada, ouvi quase sem querer o podcast No Espelho, da Manuela Xavier. Digo “quase” porque eu estava escutando outro podcast e quando acabou, pulou pro episódio mais recente dela. O tema? Amor, sexo e tesão para as mulheres. O título me fisgou na hora, fiquei por ali.
Logo no comecinho, a Manuela compartilha uma história bem íntima. Ela e o namorado estavam assistindo alguma série quando apareceu um casal falando sobre a primeira transa que tiveram. Então ela, no embalo, sugeriu:
“Vamos transar como se fosse a primeira vez?”
E ele respondeu:
“Ah não, hoje é muito melhor.”
Ela ficou surpresa com a resposta. E eu também. Aquilo bateu em algum lugar em mim… um lugar de compreensão. Mas eu precisei ouvir o episódio inteiro pra entender o que aquilo me despertou. São 35 minutinhos. Aperta o play enquanto lava a louça, toma banho, dobra as roupas…
Entre palavras e ideias
📩 A Cynthia completou 1 ano de newsletter e eu sei que isso significa tanto. Já já eu completo dois anos e isso aqui me salvou.
📩 Andrea acabou de parir seu primeiro livro, o Engravidei. E AQUI ela compartilhou a história de como surgiu a capa da sua obra. Li com sorriso no rosto.
📩 Estava com saudades das crônicas da Marina. Fiquei pensando que sou do time do Joel, o uber (tem que ler para entender). Mas eu não quero mais ser. Tenho refletido a respeito o seguinte: é dar muito poder aos outros acreditar que vai pegar na gente a inveja, o mal olhado… não quero mais crer nisso não. Meu corpo, minha energia, minhas regras.
📩 Você já conhece a News da Gabi? Super indico! Como ela mesma diz, é uma curadoria de conteúdo e sensações. Passa lá!
Abril chegou! Adoro esse mês. Que ele seja feliz por aí e traga só coisas boas.
Te vejo aqui semana que vem?
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Aaaaah vamos comentar sobre esse livro hahaha! Eu sou bem fã de literatura de entretenimento, mas tinha muita resistência em ler Colleen Hoover (achava dramático demais). Também fui convencida a ler esse livro dela, e me surpreendi! Achei uma leitura viciante, não conseguia parar. Adorei que você começou esse texto citando o casal, porque achei que ela descreveu muito bem a química entre eles.
Também estou amandoo ver você se envolvendo com esse lado da literatura mais erótica/sensual.. ansiosa para ver o que vem por aí! 🥰
E também amei o seu comentário sobre a minha crônica! Isso aí!
Gabi, eu tive uma síncope com Paixão Simples. Me deu um desespero aquela mulher apaixonada por um cara a ponto de perder a razão. Aí me lembrei do tanto que eu detesto me apaixonar. Até virou uma edição da news. Acho que essa você não viu. Olha aqui: https://www.andreameconta.com.br/p/75-a-paixao-segundo-eu-mesma