As sextas ganharam um gostinho mais especial por aqui desde que a série Sex and City entrou para o striming Netflix. Lançada em 1998, passava na HBO e, na época, em casa não tínhamos assinatura de TV paga. Então, fui começar a assistir um pouco depois quando começou a ser transmitida na TV aberta. Nunca vi numa sequência! Como passava uma vez por semana, às vezes eu ficava sem ver muitos episódios e perdia os acontecimentos.
Anos depois, quando tive meu primeiro filho, em 2011, comprei o box completo de DVD da série e foi então que assisti de maneira completa e sequencial. Sempre amei o quarteto. Chorei vendo os filmes. Vibrei e me emocionei quando lançaram a sequência intitulada And Just Like That, há poucos anos, em 2021. Atualmente, meu plano de vida para as sextas virou assistir tudo em sequência: a série, os filmes e Just Like.
Tenho assistido a série e ela tem me causado sentimentos diversos. Ao mesmo tempo em que acho revolucionária para a época, não deixa de ser a história de 4 mulheres brancas bem sucedidas (por mais que a Carrie não pareça cada vez que ela compra um par de sapatos que a faz lembrar que ela não terá como pagar), tem episódios difíceis de engolir nos dias de hoje. E outros que me parecem contemporâneos. Afinal, a série já tem 26 anos e os assuntos abordados para aquela época, vendo agora, me parece algo futurista. No caso, o que vivemos agora. Impressionada em como a Samantha era muito a frente do seu tempo. Em um dos episódios, da segunda temporada, ela conta para Carrie que está pensando em aceitar o convite de um casal amigos gays e transar com eles. Carrie fica chocada e Samanhta fala que para quem escreve sobre sexo ela estava sendo muito antiquada, que estavam no século 21 e que no novo milênio, rótulos não vão importar, não fará diferença transar com homem ou mulher, o foco será o indivíduo, que em breve todo mundo seria pensexual. Contemporâneo, não?
Vendo por esse lado, a série me parece muito relevante ainda, tratando de assuntos tão atuais. Por outro lado, penso como mulheres dotadas de autonomia sexual e confiança, tem ao mesmo tempo, muitas neuroses. Não que isso seja um problema, acho que podemos mesmo ser inseguras e neuróticas. Mas eu não lembrava, por exemplo, que Carrie cometia tantas gafes que causam vergonha alheia.
Sempre gostei e achei o Big encantador, mas há 26 anos, ele era tido como o que chamam hoje de macho escroto. Assistindo agora, não acho ele tão escroto assim (embora nada me faz perdoá-lo o fato de ter deixado a Carrie na porta da igreja, no primeiro filme). Fico mesmo é com vergonha das atitudes da Carrie. Ela simplesmente problematiza T-U-D-O! Quer conhecer a mãe do cara, quando ele não acha que seja a hora. Então, ela vai à uma missa, na igreja que ele frequenta com a mãe. Arma toda uma cena. Vergonha! Ela fica chateada porque o cara não assina o cartão de presente de casamento dos noivos que ele nem conhece. Tudo vira um Big Problema pra ela. Fico pensando se estou muito madura ou se ela era imatura demais. Ou se eu fiquei num relacionamento longo demais e nem sei quem seria em um novo relacionamento. Será que eu me importaria de não conhecer os pais do namorado? Só penso que se ter um novo relacionamento, significa dar mais trabalho que o meu cabelo, não quero.
Pula para a terceira temporada. Carrie conhece o Aidan. Sempre fui A-PA-I-XO-NA-DA por ele. Romântica! Em uma semana e meia de encontros, ela já começa a problematizar o fato deles não terem transado ainda. Então ela leva o assunto para a mesa de café com as amigas. Pronto! Cada uma começa a dar sua opinião sobre a sexualidade do homem. Ele é gay. Ele é mole. Ele só quer ser amigo. Com tanta transformação no mundo, a gente ainda se depara com essas teorias. Ou seja, o homem não pode ter também a sua estratégia de conquista (sem joguinhos, pelo amor de Deus!), ou estar lidando com muita coisa que não tem cabeça para pensar em sexo, ou não estar a fim de transar, ou simplesmente ser romântico? Só com mulheres pode acontecer isso?
Em um dos episódios, Miranda reclama que as amigas só falam de homens. Senti certa empatia por ela. Dá para no mundo das solteiras falarmos de outras coisas além de dates? Também não quero falar de filhos! Nem sobre ex-marido! Preciso de outro retiro.
Tenho gostado de assistir a série aos 40 e poucos anos e me deparar com temas que ainda fazem parte da vida atual. Gosto de como elas abordam assuntos polêmicos sem pudor, como sexo (inclusive, a falta dele), divórcio (Charlote casa, se divorcia e casa novamente), infidelidade (Carrie trai Aidan, enquanto escrevo esse texto ainda não cheguei lá, mas essa essa traição é inesquecível), câncer (Samantha passará por isso), infertilidade, aborto, vibradores, orgasmo, relacionamentos gays...
Assistir Sex And City agora tem me gerado muitas reflexões e a da vez é a mesma que Carrie se faz no episódio 7, da temporada 3: tudo tem que ficar complicado para ficar real para nós?
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Deu até vontade de assistir a série. Eu assisti aos dois longas e adorei. A gente precisa de filmes assim para saber o que outras mulheres pensam e sentem e para não acharmos que somos algum tipo de ET. Além disso, para ocupar um espaço devido, afinal somos maioria no planeta.
Amei!!!!! SATC é outra série 26 anos depois. Bom, ela e nós... assisti alguns episódios aleatórios, mas está na pauta voltar a assistir tudo de novo e imagino que vários incômodos apareçam. Eu acho super importante a gente rever e entender o quanto amadurecemos e ainda precisamos amadurecer....