Sou antiga.
É assim que costumo explicar meu amor por papel e caneta. Nasci em outro tempo. Outro século. Não da era dos dinossauros, mas hoje parece até pré-histórico. Um tempo em que a gente usava uma caneta Bic não só para escrever, mas também para rebobinar a fita cassete depois que o toca-fitas mastigava a música preferida. O vinil precisava ser limpo na barra da camiseta antes de tocar, senão corria o risco de pular bem naquela faixa que a gente mais gostava.
Era preciso assistir Punky, a Levada da Breca no dia e na hora certos, senão só na semana seguinte. Pesquisa escolar era feita na enciclopédia Barsa, e as provas vinham cheirando a álcool e nostalgia, impressas no bom e velho mimeógrafo.
Eu tinha um fichário com mais de 500 papéis de carta, alguns perfumados, que trocava com as amigas. Na agenda, eu não marcava compromissos: colava o papel da bala que ganhava do garoto que paquerava na escola. O caderno universitário nem sempre servia para aula, era o caderno de perguntas, com questionários que as amigas respondiam, muitos deles indiscretos, mas absolutamente divertidos.
As estrelas estavam ao meu alcance, no teto do meu quarto e brilhavam no escuro. Eu apagava a luz e ficava ali, sonhando acordada, sem pressa, sem pensar que estava entediada.
Tudo o que era essencial saber sobre sexo, e apropriado para idade, estava nas revistas Capricho e Atrevida. E o melhor passatempo das férias eu encontrava nas 300 páginas do Super Almanaque da Turma da Mônica.
Venho de um tempo em que o meio de comunicação era fax, carta ou orelhão. A ficha de telefone interurbano permitia uns 18 segundos de conversa. A gente precisava enfileirar várias para não cair no meio da frase. Pra mandar carta, tinha que comprar selo. O envelope era branco, com bordas em verde e amarelo.
Sou desse tempo: o tempo das cartas escritas à mão.
O hábito veio do meu pai, que sempre morou no Rio. Quando eu era pequena, nossa forma de conversar era pelo correio ou pelo telefone público. Guardo até hoje, como o bem mais precioso, uma caixa com as cartas que ele me escreveu nos anos 80 e 90. Algumas escritas à mão com sua letra indecifrável para uma menina de 7 anos e outras feitas a máquina de escrever - algo que ganhei e aprendi a usar anos depois.
Meu amor por papel e caneta (Bic, diga-se de passagem) vem daí. Da dedicação. Do silêncio. Da espera. Da letra e do amor deixados no papel. Sempre que posso, ainda escrevo para quem é especial pra mim. Uma carta, um bilhete, um rabisco que carregue sentimento. Gosto de dedicar tempo. Energia. E deixar minha letra, mesmo torta, como testemunha daquilo que não se diz por WhatsApp, talvez, só por e-mail.
Pílulas de inspiração
Dia dos Namorados chegando e eu preciso dizer do bode que estou das redes sociais em datas comemorativas. Já tinha sentido isso no Dia das Mães, e fui totalmente rebelde, não postei uma foto com meus filhos. Porque venho pensando muito sobre essa necessidade (ou obrigação?) de performar tudo o tempo todo. Como se o amor, a amizade, o afeto só existissem se fossem exibidos publicamente.
E não é. Tem muito amor que mora no silêncio. Na ausência de post. No off-line.
Às vezes, acho que a gente está mais preocupado em mostrar que ama (e é amado) do que em amar de fato. E aí entra a tal da performance: o casal que a relação anda mal fora da foto, mas posta textão apaixonado. A mãe exausta que se sente culpada e ainda precisa fazer homenagem aos filhos e a si mesma no Instagram. A gente se prende tanto à vitrine que esquece de viver a casa por dentro.
Tenho pensado que o que é bom mesmo a gente guarda. Não por vergonha ou segredo, mas por cuidado. Porque o que é precioso merece espaço de proteção.
A vida não precisa virar conteúdo. Às vezes, a gente só precisa vivê-la.
Mas pensando no dia dos namorados e em todo mundo que fica chateado por não ter um par, quero compartilhar um texto que li dia desses aqui no Substack e que achei muito pertinente para refletirmos nessa data: Preciso de um namorado ou só de um amigo?
Crescemos com a ideia, reforçada por filmes e músicas, de que o amor romântico é a solução para tudo. Que, quando ele chegar, preencherá todos os vazios da nossa vida – até aqueles que nem estão diretamente ligados a ele. A sociedade nos ensina que a felicidade depende disso, como se estar solteira significasse, de algum modo, estar incompleta. Mas será mesmo que felicidade e completude dependem disso?
Fica esse trecho aí para pensar. Mas vale ler o texto completo.
Feliz dia dos namorados amor pra você!
Entre palavras e ideias
📩 Baseado em fatos reais - quem aí assistiu Ney nas telonas?
📩 Como se tosse em russo? E como sonha em russo?
📩 Arrasta os móveis do lugar. Lembrei que minha mãe mudava o tempo todo os móveis.
📩 Engravidei está nas mídias! Minhas amigas escritoras estão muito chiques.
Te vejo semana que vem?
Com afeto e coragem,
Gabi MIranda
Vi uma vez um texto que dizia que as BICs são colocadas no planeta Terra por extreterrestres para aprenderem sobre os serem humanos e é por isso que elas somem. Já tem uns 20 anos que li esse texto, nunca mais o encontrei. Pensando em criar a minha versão, porque era sensacional.
Que texto nostalgico Gabi! 💜