“Ah, paixão faz a gente perder o controle, sair de si.”
Foi o que me disseram outro dia, quando falei de atração e do livro Paixão Simples, da Annie Ernaux.
Eu quis confrontar, dizer que aquilo era uma falácia. Mas fiquei em silêncio. E quando fico em silêncio, acredite, estou pensando. Eu penso muito.
Todo mundo romantiza essa ideia de que paixão é um furacão que vira a gente do avesso. Eu acho que vira mesmo. Mas acredito que existe um tipo de paixão simples. Daquelas que não deixam a gente sem ar, sem juízo, sem chão. E isso não significa que não seja intensa — só é mais calma. Chega sem alarde, mas te preenche de um jeito tão bonito que você nem percebe que está sendo invadido por esse sentimento.
Cheguei a pensar que isso tinha a ver com a idade, com o tempo, com a tal da maturidade. Mas não, não, não. Desconfio que tem a ver com reciprocidade.
Toda paixão que não é recíproca parece ser aquela em que o apaixonado mais perde o controle de si — Annie Ernaux que não me deixa mentir. A mulher ficou tão apaixonada por um cara que perdeu a razão.
Abre parênteses. Sim, estou citando novamente o livro da Annie porque realmente foi um trem que me desestabilizou e, ao mesmo tempo, me fez voltar pro eixo. Fecha parênteses.
Tem paixão que não precisa do caos pra ser forte. Que te olha nos olhos com calma, respeita teu tempo, soma sem te engolir. Uma paixão que não exige que você se perca ou mude seus planos — mas te convida a se encontrar junto. Mesmo que seja por um breve período. Mesmo sem saber onde essa história vai dar, ou já sabendo que não vai dar em nada, por conta de planos de vida diferentes.
Talvez a gente tenha aprendido a desconfiar do que é tranquilo porque confundiu intensidade com sofrimento.
Mas paixão simples existe, sim.
Dá pra sentir nas entrelinhas quando o coração da gente está batendo num ritmo diferente — mas não está em desespero, está em paz.
Uma paixão que te pega de mansinho, sem arrancar teus sentidos. Daquelas em que a pessoa te olha como se te lesse. Vocês riem juntos das mesmas bobagens. Dá vontade de escrever poesia só de lembrar momentos juntos.
Isso é paixão simples.
E às vezes, ela é exatamente o que a gente mais precisa pra respirar fundo e dizer:
Ah… é aqui que eu quero ficar um pouco mais.
Pílulas de Inspiração
Tem um filme na Netflix inspirado no livro Paixão Simples. A dica veio da Gabi quando ela viu que eu tinha gostado do livro. O filme é muito mais angustiante, juro. No final tem uma cena que dá vontade de segurar os braços dessa mulher e dar uma chacoalhada, pra ver se ela volta para a realidade. Você encontra o filme com o nome Pura Paixão ou Passion Simple. Vale a pena assistir.
Te vejo semana que vem?
Com afeto e coragem,
Gabi Miranda
Queria muito uma paixão dessas 🥰
Gabi, sobre o livro "Paixão Simples", penso que se fosse para dar a real, o nome seria "Simplesmente paixão". Tenho a impressão de que se for simples, não é paixão porque se for, acho que cega pra valer. Tomara que você encontre uma paixão como descreveu. Seria o ideal, mas eu mesma, se ficasse só, não queria mais esse tipo de sentimento, pois liberdade não tem preço.